Por Que o Plano de Intervenção Falha

Ignorar as Comorbidades no TEA: Por Que o Plano de Intervenção Falha

Ignorar as comorbidades no TEA é um erro comum que pode comprometer todo o plano de intervenção. Você já parou pra pensar que o autismo, muitas vezes, não anda sozinho?

“A criança com autismo não é só autismo. Ela é um universo de singularidades que precisa ser visto em profundidade.”

Essa frase me acompanha em muitos atendimentos – e talvez ressoe com você que trabalha com comorbidades no autismo no contexto clínico ou educacional. Quantas vezes você já ouviu (ou pensou): “Ah, esse comportamento é por causa do TEA mesmo…”?

E se eu te dissesse que, muitas vezes, não é só o TEA que está ali? Pois é. O autismo raramente vem sozinho. E quando a gente aprende a olhar com mais atenção, descobre um mundo de informações que podem transformar totalmente a forma como avaliamos, acolhemos e intervimos.

Criança em avaliação neuropsicopedagógica

Mas o que são essas tais comorbidades?

Comorbidade é um nome técnico, eu sei. Mas pense assim: é quando duas ou mais condições aparecem juntas na mesma pessoa, como passageiros viajando no mesmo carro.

E no caso do autismo, isso é mais comum do que a gente imagina. Você sabia que mais de 70% das crianças com TEA apresentam pelo menos uma outra condição associada? E que cerca de 40% têm duas ou mais? Fonte: Autism Speaks

Essas comorbidades podem ser muitas: TDAH, transtornos de ansiedade, TOD (Transtorno Opositivo Desafiador), dislexia, transtornos do sono, epilepsia, dificuldades de processamento sensorial. Cada uma delas é como uma peça de um quebra-cabeça – sozinha, já tem seu impacto; junto com o TEA, cria uma imagem única.

👉 Leia também: Comorbidades na Escola – Estratégias para Inclusão e Aprendizagem

O impacto das comorbidades associadas ao TEA

“Mas ninguém nunca falou sobre isso…”

Muita gente ainda acha que o diagnóstico de autismo é a resposta pra tudo. A agitação? “É do TEA.” A resistência às mudanças? “É do TEA.” A ansiedade que trava tudo? “É do TEA.” A dificuldade de aprendizagem que ninguém explica? “TEA também.”

Só que não é bem assim. Às vezes, tem algo além, algo que fica escondido nas sombras do diagnóstico principal.

👉 Quer saber como identificar esse diagnóstico duplo? TEA e TDAH – Como Identificar o Diagnóstico Duplo

O Perigo de Ignorar as Comorbidades no TEA: Por Que o Plano de Intervenção Falha?

Isso acontece quando ignoramos as comorbidades no TEA.

Imagine uma família que leva o filho pra terapia comportamental por anos, mas ele não avança como esperado. Ou uma mãe que ouve da escola: “Ele é muito difícil, não tem jeito.”

Ignorar essas comorbidades é como tentar apagar um incêndio com um copo d’água – pode até parecer que funciona por um instante, mas o fogo continua lá.

👉 Leia também: TEA e Transtornos de Ansiedade – Sinais e Cuidados

Entender as comorbidades é como trocar um mapa amassado por um GPS personalizado

Quer ver isso na prática?

Caso 1: Lucas

Lucas tem 7 anos e diagnóstico de TEA. Quando chegou até mim, não parava quieto, interrompia tudo, se irritava fácil. Mas ele também tinha TDAH. Ajustamos o plano com pausas curtas, atividades com movimento e um cantinho pra regulação. Mudou tudo.

Caso 2: Ana

Ana tem 9 anos, diagnosticada com TEA. Mas a mãe contou: “Ela congela quando tem que falar com alguém.” Descobrimos uma ansiedade social severa. Com psicoterapia e estratégias certas, Ana hoje apresenta trabalhos – no seu tempo, do seu jeito.

Plano de intervenção ajustado faz toda diferença

O que muda no plano de intervenção com comorbidades?

Reconhecer essas condições evita que a gente continue ignorando as comorbidades no TEA e insistindo em estratégias que não funcionam.

Muda tudo. A equipe trabalha com mais propósito. A família compreende melhor. E a criança se sente acolhida.

E onde entra o neuropsicopedagogo nisso?

O neuropsicopedagogo é como um detetive do comportamento. Observa, escuta, conecta pontos e articula com escola, terapeutas e médicos.

👉 Leia também: O Papel do Neuropsicopedagogo na Avaliação de Crianças com TDAH e TEA

E se você trabalha em escola?

Você pode ser o primeiro a perceber algo diferente. Pode acolher aquela criança, ajudar a quebrar estigmas e abrir caminhos para novas possibilidades.

Dicas práticas pra identificar comorbidades no TEA

  • Observe além do comportamento
  • Pergunte sobre sono, alimentação, rotina
  • Converse com outros profissionais
  • Ajude a família a enxergar o todo
  • Esteja aberta a rever estratégias

Finalizando…

As comorbidades no TEA são reais, frequentes e, muitas vezes, invisíveis – mas estão lá, esperando pra serem vistas. Quando a gente começa a enxergar, tudo faz mais sentido. O plano de intervenção vira uma luz que guia. E a criança volta a ser quem ela é: um universo inteiro, cheio de possibilidades.

Quer continuar essa conversa?

No próximo artigo, vou falar sobre uma comorbidade muito comum no autismo: o TDAH.

👉 Leia agora: TEA e TDAH – Como Identificar o Diagnóstico Duplo

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Foto de Gleiciane Alves

Gleiciane Alves

Neuropsicopedagoga

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