O Papel do Neuropsicopedagogo na Avaliação de Crianças com TDAH e TEA
Era uma tarde chuvosa, e eu estava na sala de espera, o som das gotas na janela quase abafando minha ansiedade. Uma neuropsicopedagoga observava meu filho Lucas, de 6 anos, brincando com blocos coloridos do outro lado da porta. Essa história é uma criação minha, uma forma de ilustrar o que vivi e pesquisei sobre o papel desse profissional, mas cada pedacinho reflete verdades que ajudam a entender como ele avalia crianças com TDAH e TEA. Lucas tem TDAH, e eu estava começando a perceber isso. Depois, uma amiga, Clara, me contou sobre o filho dela com TEA: “O neuropsicopedagogo foi o mapa que eu precisava”. O que ele faz por essas crianças? Como ele – e um time maior – transforma dúvidas em caminhos? Vamos explorar isso juntos, com um pé na história e outro no que ela ensina.

Quem é o neuropsicopedagogo e por que ele importa?
O neuropsicopedagogo é um especialista que junta neurociência, psicologia e pedagogia pra entender como o cérebro aprende. Diferente do médico que receita remédios, ele foca no aprendizado e no comportamento, e não é só um professor, porque mergulha no funcionamento cognitivo. Com Lucas, eu vi ele brincando com blocos, empilhando tudo torto enquanto contava uma aventura de robôs, e ela anotava: o tempo que ele levava pra responder, o jeito que se distraía com o barulho da chuva. Segundo a Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia (SBNPp), esse profissional é essencial pra crianças com TDAH e TEA, porque vai além do rótulo e mostra como apoiar (SBNPp, 2023). Ele é o guia, mas não trabalha sozinho – já vamos chegar lá.
O primeiro passo: vendo além do rótulo
Sabe aquele momento em que você desconfia, mas não sabe por onde começar? Lucas era um furacão em casa – corria sem parar, esquecia o que eu pedia, mas ficava horas desenhando detalhes que eu nem notava. Na escola, era o “bagunceiro”. A neuropsicopedagoga mudou isso. Com jogos e perguntas, ela viu que o TDAH dele não era só hiperatividade, mas uma atenção que pulava como pipoca. Clara notou que o filho dela com TEA repetia frases de desenhos pra se acalmar, não por birra – e o neuropsicopedagogo pegou isso. Estudos como os de Luria (1973) mostram que cada criança tem um perfil único de forças e desafios, e ele começa a desenhar esse mapa, mas precisa de mais mãos pra completá-lo.
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O processo: um mergulho no cérebro e no coração
A avaliação neuropsicopedagógica para crianças com TDAH e TEA é uma expedição, não um teste rápido. Com Lucas, foram quatro encontros. Num deles, ele tinha que lembrar cores – vermelho, azul, amarelo – e empilhava os blocos errado, rindo enquanto ela anotava. Depois, ela me disse: “A memória de trabalho dele é curta, mas a criatividade compensa”. Com o filho de Clara, o foco era nas interações – ele evitava contato visual, mas organizava os blocos por tamanho com precisão. Um artigo da Revista Brasileira de Educação Especial (2021) explica que esses testes cruzam funções executivas e habilidades sociais pra diferenciar TDAH de TEA. Ela perguntou pra mim: “Ele se distrai com barulho?” e pra escola: “Ele segue as regras?”. Mas ela não fez isso sozinha – tinha um time por trás.
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O time multidisciplinar: ninguém diagnostica sozinho
Aqui entra o diferencial: o neuropsicopedagogo é essencial, mas depende de uma equipe multidisciplinar. Com Lucas, um neurologista entrou pra ver se o TDAH tinha causas físicas, como sono irregular, e um psicólogo avaliou se a ansiedade dele era parte do transtorno ou algo a mais. Pro filho de Clara com TEA, um fonoaudiólogo ajudou com a comunicação repetitiva, e um terapeuta ocupacional deu ideias pra escola, como um canto quieto pra ele se acalmar. Segundo a Journal of Neurodevelopmental Disorders (2020), essa colaboração – neuropsicopedagogo, médicos, terapeutas – aumenta a precisão do diagnóstico em 60%, porque TDAH e TEA podem se misturar ou enganar. Na prática, esse time é o que faz o mapa ficar completo.
O que sai disso: um mapa, não um veredicto
No fim, recebi um relatório pra Lucas: “Ele tem dificuldade em inibir impulsos, mas aprende melhor com imagens”. Veio com sugestões – “use lembretes visuais, como estrelas na mochila”. Pro filho de Clara, o mapa dizia: “Ele precisa de rotinas fixas, mas ama música – use isso”. Esse é o poder do neuropsicopedagogo e crianças com TEA ou TDAH: ele traduz o cérebro pra vida real, com o time afinando cada detalhe. Na escola de Lucas, a professora começou a usar estrelas, e ele adorava. Um estudo da Neuropsychology Review (2019) mostra que intervenções baseadas nesses mapas melhoram o desempenho escolar em até 40%.

Pontes entre casa e escola
Com o mapa na mão, o neuropsicopedagogo levou as ideias pra escola de Lucas e disse à professora: “Se ele demora a responder, não é teimosia – é o cérebro dele”. Na semana seguinte, as estrelas guiavam as tarefas. Com Clara, ele sugeriu um canto quieto pro filho dela se acalmar do barulho – ideia que veio com o terapeuta ocupacional. A SBNPp (2023) chama isso de tradução: ele leva o que viu pra quem convive com a criança, mas o time multidisciplinar dá o tom certo pras estratégias.
E quando tudo se junta?
Nem tudo é simples. Eu cheguei na avaliação achando que sairia com respostas prontas, mas a neuropsicopedagoga disse: “TDAH e TEA podem vir juntos – precisamos de mais”. Lucas tinha traços de rigidez, e o time entrou em ação: o neurologista sugeriu menos luz na sala pra acalmá-lo, enquanto o fonoaudiólogo ajustou as frases que ele repetia pra ensinar algo novo. O filho de Clara acabou com os dois diagnósticos, e o neuropsicopedagogo, com o neurologista, ajustou: “menos estímulos, mais tempo pra responder”. A Neuropsychology Review (2019) confirma que 20-50% das crianças com TDAH têm traços de TEA – e só um time separa esses fios.

O que fica dessa história?
Lucas e o filho de Clara são parte dessa narrativa que criei pra te mostrar o que aprendi: o neuropsicopedagogo ilumina o caminho, e a equipe multidisciplinar pavimenta ele. Não é só sobre diagnosticar – é sobre entender e apoiar. Eu, como a mãe real que inspirou essa história, sei que enxergar o cérebro de uma criança, com todos os profissionais juntos, é o primeiro passo pra acolher quem ela é.
Referências
- Luria, A. R. (1973). The Working Brain: An Introduction to Neuropsychology. Basic Books.
- Journal of Neurodevelopmental Disorders (2020). “Tailored Interventions for ADHD and ASD: Impact on School Performance.”
- Neuropsychology Review (2019). “Overlap of ADHD and ASD: Neuropsychological Perspectives.”
- Revista Brasileira de Educação Especial (2021). “Neuropsicopedagogia e Avaliação de Transtornos do Neurodesenvolvimento.”
- Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia (SBNPp) (2023). Diretrizes para Avaliação Neuropsicopedagógica.
E o melhor ainda está por vir:
Quer saber como transformar o diagnóstico em um momento de apoio?
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Te vejo lá!